Procura-se!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A DECADÊNCIA DA APRECIAÇÃO ESTÉTICA NA MODERNIDADE

     Ir além do que sugerem os recursos midiáticos. Pensar além da mera acomodação do que é imposto por quem controla a mídia e, por conseguinte, a massa. Desvencilhar-se das certezas que se transfiguram semanalmente. Tudo isso é sugestão – ainda que não dita de forma literal – de Immanuel Kant, em sua célebre pergunta: O que é esclarecimento? Para o pensador, esclarecer-se é sair da menoridade. E ele é enfático: o homem só se acomoda na menoridade por vontade própria e sendo assim então, pela sua própria vontade ele pode sair dela. Para ele, a menoridade é como um relho. O individuo deixa de ser senhor de seus valores e pensamentos e permite o comando de outras pessoas e instituições em áreas de sua vida onde só ele, a priori, teria a prerrogativa de intervir. Ele esclarece:

É difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instrumentos mecânicos do uso racional, ou, antes, do abuso de seus dons naturais são os grilhões de uma perpétua menoridade. (KANT, p.1)

Como uma espécie de anestesia, é difícil que o homem se liberte dessa menoridade, primeiro porque é difícil que ele tenha consciência dela. Ao ser manipulado, quer por instituições, quer por pessoas, ele é tomado da falsa sensação de controle sobre sua vida. Essa sensação é potencializada à medida que é dada a ele uma ilusória convicção de que ele toma as decisões. Ao se aperceber, porém, em seu estado de menoridade, cabe ao sujeito esforçar-se para alcançar o esclarecimento, que como já mencionado, nada mais é que o caminho de libertação dessas rédeas que são atadas a ele.

Embora Kant não reconheça a arte como um campo propício para o controle por parte da ideologia dominante (p.6) todos nós sabemos que ela pode ser utilizada sim como instrumento de coerção ideológica por quem está no comando, citando inclusive como exemplo, as peças teatrais que a União Soviética oferecia às crianças em meados da segunda década do século passado, todas recheadas de sutis elementos de controle político – controle esse que ia desde a relação escrita de quem frequentava os teatros às encenações propriamente ditas. Dessa forma, me reporto ao que diz Theodor Adorno, filosofo que fez parte da chamada Escola de Frankfurt e que cunhou a expressão “indústria cultural” referindo-se ao poder midiático exercido no espectador, transformando-o em “objeto de seus artifícios fetichistas” (FRANÇA, 2008). Em ensaio sobre o fetichismo na música, Adorno salienta a alienação causada nessa relação entre o espectador-consumidor e a música que escuta, a música que faz sucesso.

De vez que os atrativos dos sentidos, da voz e do instrumento são fetichizados e destituídos de suas funções únicas que lhes poderiam conferir sentido, em idêntico isolamento lhes respondem - igualmente distanciadas e alheias ao significado de conjunto e igualmente determinadas pela lei do sucesso – as emoções cegas e irracionais, como as relações com a música na qual entram carentes de relações. Na realidade, as relações são as mesmas que se verificam entre as músicas de sucesso e os seus consumidores. Parece-lhes próximo o totalmente estranho: são estranhos, alienado da consciência das massas por um espesso véu, como alguém que tenta falar aos mudos. Se estes porventura ainda reagirem, já não fará diferença alguma se tratar da sétima sinfonia ou do short de banho (ADORNO, 1999).

Segundo DESGRANGES (2006) o ato estético é empreendido no contato do contemplador com a obra. Esse ato estético acontece, de fato, quando o espectador cria a sua interpretação particular a respeito do que observa, dando conta assim também de um ato criativo. Na perspectiva de Adorno, a música oferecida ao público não possibilita essa espécie de “digestão”, pois seu oferecimento se dá na ideia do comércio, onde a apreensão do ato estético é descartável, desnecessária.
Desde a modernidade, diversos são os teóricos que questionam a atitude do espectador diante do que lhe é apresentado e sobre como essa atitude pode ser potencializada, tornando a comunicação através da arte, efetiva e dinâmica. No campo teatral, vários foram os autores que desenvolveram técnicas e teorias de encenação onde o público é convidado a manter uma postura crítica em face da cena e não é visto apenas como um mero receptor da mensagem transmitida pelos atores. Bertold Brecht, um dos diretores que mais investiu em propostas em que o público era co-participante do evento cênico, chegou a falar inclusive numa pedagogia do espectador, na formação que o teatro pode oferecer a quem se predispõe a assisti-lo. Dessa forma, a arte é vista como um possível caminho para a autonomia do sujeito – motivo pelo qual ela pode também ser o contrário disso. Ao realizar a sua leitura sobre uma cena de “Bernarda Alba”, de Lorca, ou ao formular seus conceitos sobre a “Valse del’adieu” de Chopin, ou ao empreender sua noção particular acerca de “Los Amantes” de Vilmenay, ou ainda ao estabelecer sua própria concepção sobre “Ten Chi” de Pina Bausch, o espectador está inserindo nessa leitura as suas experiências, e é a partir delas que ele poderá – e isso cabe só a ele – “chocar os ovos de sua experiência”, para usar uma alegoria benjaminiana, citada por Desgranges. Dessa forma, a arte como instrumento que transforma o agente transformador da sociedade, potencializa a autonomia do individuo e logo, seu esclarecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, Theodor W. O FETICHISMO NA MÚSICA E A REGRESSÃO DA AUDIÇÃO in: Textos Escolhidos – pp. 166-191. São Paulo. Abril Cultural, 1983.

DESGRANGES, Flavio. A PEDAGOGIA DO TEATRO: Provocação e Dialogismo. São Paulo. Ed. Hucitec. Edições Mandacaru, 2006.

FRANÇA, Fabiano Leite. OLIVEIRA, Paulo César de. FETICHISMO E DECADÊNCIA DO GOSTO MUSICAL EM ADORNO. Existência e Arte - Revista Eletrônica do Grupo PET - Ciências Humanas, Estética e Artes da Universidade Federal de São João Del-Rei – Ano IV - Número IV, 2008.

KANT, Immanuel. RESPOSTA À PERGUNTA: O QUE É ESCLARECIMENTO? (AUFKLÄRUNG) in: Textos Seletos. Petrópolis. Vozes. 1974.

SIQUEIRA, Gustavo Silveira. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESCLARECIMENTO OU ILUMINISMO NO PENSAMENTO DE KANT. Revista Jurídica da UniFil, ano III – Número 3.

Texto de Conclusão da Disciplina Filosofia
Escrito por Rute Ferreira
Acadêmica da UFMA

VERONIQUE

Apresentada pela primeira vez em um trabalho de conclusão da disciplina Improvisação Teatral, em junho de 2010, "Veronique", obra do escritor paulista Dib Carneiro Neto, é a história de um travesti preso na então maior penitenciária do Brasil, o extinto Carandiru. Veronique de Milus, como gosta de ser chamada, fala dos conflitos com a família devido à sua orientação sexual, das incertezas, do modo de ser tratada pelos outros na cadeia... Posteriormente, foi também apresentada no evento promovido pelo Departamento de Artes da UFMA, chamado 5ª de Arte, em outubro de 2011 e no Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil, em novembro do mesmo ano, na sessão de mostras artísticas, realizado pela mesma universidade.
Na proposta de encenação da Companhia Quarto Cênico (idealizada pelo ator Lindo Ramos, com auxílio de Luís Ferreira) cadeiras e lençois delimitam o espaço cênico. É a cela de Veronique, e por que não dizer, seu mundo, o que restou dele.
De forma nenhuma Veronique deseja a compaixão do espectador. Não. Seu desejo é ambicioso, vai bem mais além disso. Até porque, Veronique sabe: ela é amada. E se quiser, faz nevar no Carandiru.



Ficha Técnica:
Texto: Dib Carneiro Neto
Atuação, direção, figurino: Lindo Ramos
Cenografia: Lindo Ramos e Luís Ferreira
Sonoplastia: Rute Ferreira
Produção: Companhia Quarto Cênico

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Primeira Conversa

Saudações teatrais a todos!

É com enorme prazer que criamos mais esse veículo de interação virtual. Aqui postaremos fotos de trabalhos, convites, informes, conversas sobre a nossa arte...
Esperamos em contrapartida, seus comentários, sua opinião, suas críticas!
E vamos mais!

Companhia Quarto Cênico